
Confira a entrevista com o paratleta medalhista Mateus Rodrigues Carvalho do Clube Desportivo para Deficientes de Uberlândia (CDDU).
Como a bocha paralímpica entrou na sua vida?
De 2006 até 2012 eu praticava natação de alto rendimento, contudo, no fim já não conseguia resultados expressivos e também comecei a apresentar alergia ao cloro das piscinas. Neste ano, não querendo deixar as competições esportivas, me indicaram a bocha. Eu já conhecia o esporte, no entanto, o achava bem chato. Como estava parado, resolvi dar uma chance e com duas semanas de treinamento participei de um campeonato onde ganhei o terceiro lugar. A medalha me mostrou que eu poderia me tornar competitivo no esporte.
Qual a diferença entre a bocha convencional e a adaptada?
A bocha convencional é praticada em quadras de areia e com bolas maciças. Já a adaptada, é praticada em quadras com piso liso e plano e as bochas (bolas) são de couro com polímero no interior. Diferente da maioria dos esportes, a bocha paralímpica não possui correspondente nos esportes olímpicos.
Quais sãos as suas principais conquistas no esporte?
Em 2015, conquistei o primeiro lugar na copa América de pares e equipes. Também conquistei o primeiro lugar no campeonato brasileiro 2016.
Qual a influencia da UFU na criação do esporte na unidade?
Não saberia ao certo te dizer. Sei que o esporte era desenvolvido na entidade APARU. Quando iniciei a prática, ela já acontecia no Campus da Educa.
Qual o apoio oferecido pela universidade?
A universidade cede o ginásio 2 para a prática do esporte e através do professor Glênio, que é formado pela UFU, consegue desenvolver projetos na universidade voltados para a bocha.
Membro do CDDU desde 2009 com a natação e posteriormente com a bocha, qual sua visão sobre incentivos aos paratletas?
Patrocínio é algo complicado de se conseguir e mesmo quando se consegue, eles não são tão expressivos quanto os cedidos aos atletas olímpicos ou do futebol. Contudo, o apoio vem aumentando. Existem projetos promovidos pelo governo, como o bolsa atleta, que permitem que vários atletas se mantenham através do esporte e se dediquem exclusivamente a ele. E com a bocha não é diferente. Apesar de não ser um esporte tão conhecido, ela é de fácil ligação. Em 2008, na primeira participação do Brasil na bocha, os paratletas conquistaram dois ouros, permitindo uma maior divulgação do esporte e atraindo os olhares das pessoas.
Qual a sua opinião sobre a paralimpíadas 2016 que será sediada no Brasil?
O evento é algo bem positivo, pois o paradesporto não é bem divulgado no Brasil como os esportes convencionais. Basta comparar a cobertura e a transmissão na mídia da olimpíada e da paralimpíada. Assim o evento em si atrairá a atenção dos brasileiros sem depender tanto da televisão.
Nas ultimas semanas houve uma grande polêmica com relação a uma campanha para as paralimpíadas feita pela Vogue Brasil que divulga atores conhecidos com membros retirados por Photoshop. Qual a sua opinião sobre a divulgação em termos de representatividade?
Eu não vejo que foi uma campanha negativa ou errada. Acho que foi uma campanha publicitária para tentar voltar o olhar das pessoas para os atletas paralímpicos. A utilização de atores globais gera um choque nas pessoas e isto auxilia a chamar a atenção para os paratletas. Poderia ter sido usado pessoas com deficiências, mas não acho que causaria o mesmo espanto nas pessoas ao verem atores globais mutilados, levando muitos a pesquisar sobre o que realmente tinha acontecido aos atores e de forma indireta conhecer mais sobre esse universo paralímpico.
A segunda edição do Jornal da biomedicina traz foco sobre o uso indevido de medicamento. Você saberia informar se há diferença no rigor antidoping entre atletas convencionais e paratletas?
Até onde conheço não há diferença na realização dos testes. Tanto atletas convencionais quanto paratletas devem informar ao comitê a necessidade do uso de determinados medicamentos que estejam na lista dos proibidos para tratamento de alguma enfermidade aguda, ou mesmo a necessidade do uso continuo, visto que o uso não é para conquistar uma superioridade física, mas tratar ou aliviar sintomas existentes. Caso o atleta ou o paratleta seja pego fazendo o uso indevido de algum medicamento ambos sofrerão punições semelhantes.
Qual a relação entre esporte e medicamentos?
Para mim, o esporte sempre funcionou como terapia. Eu não necessito fazer uso de nenhum medicamento contínuo que esteja listado como doping, nem conheço quem o faça. Porém, sei que existe. Conheço atleta que não fazia necessariamente o uso de medicamento, mas sim de álcool e cigarro e que o esporte possibilitou a ele parar com o uso destas substâncias. O esporte também é questão de saúde, então ele pode ser usado para aliviar algumas dores que os indivíduos sentiam antes da pratica, trazendo alivio e a diminuição do uso de alguns medicamentos.

Paratleta Mateus Rodrigues Carvalho - CDDU